Por Fernando Mantovani

Por acompanhar de perto e em profundidade as tendências do mercado de trabalho, tenho mais facilidade para antecipar a direção dos resultados das inúmeras pesquisas que realizamos ao longo do ano. Uma enquete feita recentemente pela Robert Half, entretanto, me surpreendeu. E acabou inspirando o desenvolvimento deste artigo.​

Por meio de uma sondagem no LinkedIn, buscamos mapear quais habilidades são consideradas essenciais para uma boa liderança no cenário atual. Entre os 726 profissionais que responderam à pesquisa, 49% apontaram a inteligência emocional; 27% a comunicação eficaz; 22% a capacidade de inspirar e 2% mencionaram as competências tecnológicas.

A porcentagem insignificante relativa à tecnologia chamou minha atenção. Afinal, em plena era da indústria 4.0, marcada pela aplicação de Internet das Coisas, Inteligência Artificial e computação em nuvem, como entender essa percepção dos respondentes?

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A importância da empatia para a tomada de decisões

Uma hipótese é que o debate mundial sobre o risco de substituição do homem pela máquina tenha pesado bastante em favor das soft skills. As habilidades socioemocionais são consideradas um trunfo dos trabalhadores e estão na mira de todos que desejam se destacar e ascender na carreira.

Sem dúvida, ter empatia, saber ouvir e dar bons exemplos são atributos indispensáveis para o exercício de uma gestão eficiente. O chavão de que os profissionais são contratados pelos atributos técnicos e dispensados por motivos comportamentais segue verdadeiro, ainda mais para os líderes. No entanto, ser uma liderança completa, na atualidade, envolve também estar sintonizado à transformação digital.

Não se trata de alcançar especialização em programação ou desenvolvimento (o que é excelente, mas não obrigatório), mas de dominar o básico como Excel, ERP, CRM, entre outras ferramentas do dia a dia. Uma organização defasada tecnologicamente corre o risco de sumir do mapa, e o mesmo raciocínio vale para os gestores. Uma liderança desatualizada torna-se suscetível a perder oportunidades e até mesmo o cargo.

Ou seja, a aceleração do uso de recursos digitais será cada vez mais intensa e disruptiva, e quem não se adaptar a essa novidade, estará em desvantagem.

Tech skills aprimoram liderança

Absorver novas tecnologias nem sempre é fácil. A implantação de sistemas de TI, por exemplo, costuma sofrer grande resistência dos usuários. Além do desafio técnico de assimilar algo novo, há o temor do desconhecido. Alguns receiam perder o emprego, outros sentem vergonha da dificuldade de aprender e por aí vai.

Sentir medo é humano, mas esse sentimento não deve impedir a evolução dos funcionários e da empresa, pois as consequências de parar no tempo são drásticas para ambos. A história tem vários exemplos de indústrias inteiras que encolheram ou desapareceram por entrar em descompasso com a inovação digital.

Dito isso, quero frisar que as habilidades tecnológicas melhoram o desempenho e a carreira das lideranças de várias maneiras:

- tomada de decisão mais assertiva – decidir com o apoio de dados e tendências contribui para se obter uma visão mais estratégica do presente e do futuro, inclusive para a incorporação de avanços tecnológicos;

- boa gestão de equipes altamente especializadas – a bagagem tecnológica facilita a condução de times com uma expertise mais técnica, como os de desenvolvimento de software e de engenharia;

- conquista de um currículo diferenciado - conhecimentos básicos de TI, análise de dados, cibersegurança e comunicação digital são algumas das competências mais valorizadas pelo mercado;

- perspectiva de ser um “pacote completo” – o domínio de tech skills combinado à inteligência emocional é um perfil procurado pelas organizações, pois aumenta bastante as chances de uma liderança ser bem-sucedida.

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Para as organizações, ter lideranças 4.0 significa melhorar a produtividade, o relacionamento com clientes, a gestão de pessoas, as ações de marketing, entre outros aspectos. A tecnologia impacta positivamente todos os processos e resultados de uma companhia, fortalecendo sua sustentabilidade no longo prazo.

Além disso, gestores com bom domínio tecnológico estimulam seus times a buscar o mesmo conhecimento e experiência. Esse é o tipo de contágio bem-vindo, pois cria uma cultura permeável à transformação digital e à superação dos desafios que ela envolve.

Fernando Mantovani é diretor-geral da Robert Half para a América do Sul