Por Fernando Mantovani
Desde 2017, realizamos um estudo sobre a percepção de profissionais qualificados, com formação superior completa e 25 anos ou mais, a respeito do mercado de trabalho e dos rumos da economia. O objetivo é monitorar o nível de confiança dos trabalhadores, uma informação essencial para compreendermos melhor o momento presente e anteciparmos oportunidades e riscos futuros.
O Índice de Confiança Robert Half (ICRH) é um indicador trimestral, que varia de 0 a 100 pontos. Os valores acima de 50 indicam que empregados, desempregados e recrutadores estão confiantes e otimistas. Abaixo disso, portanto, o quadro é de desconfiança e pessimismo. A 24ª edição do ICRH, realizada em maio e lançada em junho, registra a predominância do sentimento de pessimismo.
O nível de confiança sobre a situação atual dos que participaram da pesquisa caiu de 35,7 pontos (março) para 34,8 pontos (junho). Houve uma queda na pontuação entre recrutadores e desempregados. Já os empregados repetiram o resultado do último trimestre. De modo geral, a sensação de pessimismo piorou.
Quanto à projeção sobre o próximo semestre, a perspectiva é mais positiva. Recrutadores e empregados apresentaram uma redução no pessimismo de 0,5 pp. A pontuação saiu de 44,7 no trimestre anterior para 45 pontos no trimestre atual. A ligeira melhora dessas duas categorias, entretanto, não eliminou a visão negativa. Os desempregados se mantiveram estáveis nos estudos de março e junho.
Esses resultados têm razão de ser e estão ancorados na realidade nacional e global. Embora estejamos no meio do ano, ainda há uma atmosfera de incerteza política e econômica no país (e também lá fora), o que traz insegurança e inspira cautela em empregadores e empregados. Para complicar, a taxa de desemprego no Brasil voltou a subir.
Conforme os dados da PNAD, o índice de desemprego geral foi de 8,8% no primeiro trimestre de 2023. A desocupação dos profissionais qualificados, por sua vez, foi de 4,1% nesse mesmo período. A taxa está 0,3 pp maior do que a registrada no trimestre passado. Essa mudança quebra a longa sequência de queda do desemprego entre os qualificados registrada em 2022.
Felizmente, os números ainda são baixos e representam uma queda de 1,2 pp na comparação com a mesma época do ano anterior, o que se traduz, por outro lado, em escassez de talentos no mercado. O ICRH detectou que 76,8% dos recrutadores estão com dificuldades para contratar profissionais qualificados. O resultado representa um aumento percentual de 0,8 pp no comparativo com a última edição, lançada em março.
É hora de investir na equipe
Diante de um contexto que mescla a sensação de pessimismo dos profissionais com poucos talentos disponíveis para contratação, como as empresas devem agir?
Um investimento seguro neste momento é refletir sobre o desempenho dos times e identificar pontos críticos a serem melhorados. Isso envolve tanto apoiar a evolução dos funcionários da “casa” quanto planejar estrategicamente contratações.
Destaco, a seguir, algumas medidas que contribuem para o aprimoramento da performance das equipes:
- comunicação eficiente – clareza, objetividade e respeito são fundamentais para que todos compreendam o que é esperado de cada um e quais são os objetivos da empresa e dos projetos em andamento;
- ambiente plural – promover a diversidade leva à construção de soluções mais criativas e sintonizadas com a realidade, que é constituída por diferentes formas de pensar e viver;
- bom entrosamento – a confiança mútua para expor opiniões e dúvidas, bem como para arriscar e errar, é a base das boas relações entre colegas. Equipes alinhadas trabalham melhor;
- recompensas certeiras – salário condizente com a média praticada no mercado, jornadas flexíveis, benefícios atraentes, dias de folga e elogios são algumas das formas de demonstrar apreço aos funcionários. É importante conhecê-los bem para acertar no tipo de recompensa;
- lideranças inspiradoras – líderes que dão bons exemplos no dia a dia acabam inspirando suas equipes a fazerem o mesmo, aumentando o nível de engajamento de todos.
Atrair profissionais talentosos é outro ótimo caminho para reforçar as qualidades e os resultados dos times. Um talento contratado funciona, inclusive, como chamariz para outros. Acertar na contratação não é simples e depende da realização de todo o processo, do recrutamento à integração do recém-chegado, com rigor e seriedade.
Na prática, isso quer dizer não pular nenhuma das etapas estabelecidas, cumprir os prazos combinados, dar feedbacks transparentes e manter a comunicação com os candidatos sempre clara e cordial. Os cuidados com o recrutamento e com os funcionários contribuem para a criação de times vitoriosos, preparados para atravessar momentos desafiadores como o que estamos vivendo.
Fernando Mantovani é diretor-geral da Robert Half para a América do Sul