Por Fernando Mantovani
À medida que a pandemia e seus imensos desafios vão sendo deixados para trás, muitas empresas estão planejando retomar o modelo de trabalho 100% presencial. Algumas até mesmo já tomaram essa decisão e caminham rumo ao panorama que predominava antes de 2020: todos juntos no escritório durante o expediente.
Essa volta ao passado, em tese, pode ter vantagens advindas da convivência mais próxima, o famoso “olho no olho”. No entanto, também implica em seguir regras (explícitas ou implícitas) quanto a horário de almoço, cafezinho, saída para compromissos pessoais, entre outros inúmeros controles e detalhes atrelados ao fato de muita gente se reunir em um mesmo espaço por oito horas seguidas ou mais.
Por que a flexibilidade importa
Diante dessa movimentação, é preciso ter em mente que, se a Covid-19 está sendo vista como um problema superado, a expectativa de flexibilidade na agenda está mais vívida do que nunca. Com exceção daqueles setores que só podem atuar de modo presencial, como parte da área da saúde, por exemplo, nos demais, os trabalhadores anseiam por formatos flexíveis.
A flexibilidade tornou-se um fator decisivo, capaz de impulsionar pedidos de demissão e mudanças de emprego e de carreira, em nome de se conquistar mais qualidade de vida, saúde mental e bem-estar. Ouso dizer que ela é o novo “plano de saúde maravilhoso” do mercado de trabalho. As empresas que contam com esse diferencial são as mais desejadas, admiradas e reconhecidas pelos profissionais.
A última edição do Índice de Confiança Robert Half (ICRH) mapeou esse tema, entrevistando 1.161 trabalhadores, entre recrutadores, profissionais qualificados empregados e profissionais qualificados desempregados. De acordo com o estudo, 71% dos recrutadores avaliam que os modelos de trabalho flexíveis são determinantes para a atração e retenção de talentos. Entre as empresas ouvidas, 57% afirmaram adotar o modelo híbrido, contra 32% que optaram pelo modelo totalmente presencial e 5% que realizam home office integral.
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A maioria dos colaboradores prefere o modelo flexível
Do lado dos trabalhadores, a preferência por um esquema flexível é esmagadora. Segundo o levantamento, 69% dos profissionais empregados preferem o modelo híbrido, sendo 35% deles com quantidade de dias presenciais e remotos predefinidos e 34% com flexibilidade para a decisão. Já 21% dos participantes da pesquisa têm o trabalho 100% remoto como modelo favorito. Com isso, temos 90% da mão de obra de olho na flexibilidade e apenas 10% disposta a assumir um trabalho integralmente presencial.
Em um recorte para compreender a relevância da escolha do modelo na atração e retenção de talentos, a pesquisa identificou que 74% dos empregados consideram esse ponto determinante. Entre os desempregados, 23% apenas aceitariam em último caso uma proposta de emprego que não oferecesse a possibilidade de trabalho, ao menos, parcialmente remota.
O cenário torna-se ainda mais complexo para as empresas se lembrarmos que as taxas de desemprego estão em queda, especialmente entre os profissionais qualificados. No último período avaliado pelo PNAD, a taxa de desemprego nessa categoria foi de apenas 4%.
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Gestão a distância pode ser eficiente
Acredito que a ideia do trabalho 100% presencial tem rondado as empresas em função de dúvidas e desafios associados à gestão remota. Destaco, a seguir, três recomendações para que um gestor trabalhe de modo eficiente, seja “ao vivo” ou a distância.
- Evite o microgerenciamento – o excesso de controle sobre a equipe, acompanhando cada detalhe do trabalho, não apenas sobrecarrega o gestor e tira o foco do que é estratégico, como também desestimula os profissionais a terem iniciativa e a evoluírem.
- Valorize a autonomia – incentivar o time a assumir riscos e responsabilidades, e apoiá-lo nesse processo, é um ótimo caminho para obter engajamento. Essa atitude sinaliza a confiança das lideranças nos liderados, motivando todos a participarem e se comprometerem com o sucesso da empresa.
- Tenha foco nos resultados – é mais produtivo (e saudável) avaliar a qualidade das entregas realizadas do que o modo como elas foram feitas (horário, presencial, remoto, etc). Para tanto, garantir o alinhamento prévio de todos em torno das metas e expectativas envolvidas em cada projeto é fundamental.
Deu para notar que uma boa gestão pode ser feita de perto ou longe da equipe. Me impressiona, na realidade, que alguns líderes não encarem os últimos anos como uma comprovação disso. É a atitude do gestor, muito mais do que a distância física entre as pessoas, que determina o nível de compromisso dos profissionais com o trabalho. O anseio por flexibilidade definitivamente veio para ficar. Portanto, caso queira contar com os melhores talentos do mercado, adequar a gestão para essa nova realidade deve estar no topo da agenda das empresas.
*Fernando Mantovani é diretor-geral da Robert Half para a América do Sul