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Basta sair na rua para perceber o imenso contingente de idosos à nossa volta, se exercitando, fazendo compras, dirigindo carros, passeando com o cachorro, conversando, cuidando de netos e por aí vai. Muitos deles também trabalham, dentro e fora de casa, seguindo à risca a recomendação de que um envelhecimento saudável requer estar ativo.

A expectativa de vida vem aumentando continuamente, graças à urbanização, avanços da medicina, alimentação, entre outros fatores que contribuem para a longevidade. Na década 40 as pessoas viviam, em média, até os 40 anos, hoje, chegam perto dos 80 e muitas vezes temos centenários na família ou entre conhecidos.

A longevidade mudou tudo

De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 14,7% da população (ou 31,2 milhões de pessoas) já têm mais de 60 anos, resultado de um crescimento de 39,8%, entre 2012 e 2021. A estimativa é que, em 2060, o percentual de idosos acima de 65 anos de idade no País ultrapasse os 25%.

Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 40,3% dos brasileiros – quase metade da população! -- serão idosos daqui a 90 anos e os menores de 15 anos não passarão de 9% do total de habitantes. Além de vivermos mais, a taxa de natalidade está caindo, como indica o Censo recém-publicado. Na década de 1960, a média era de seis filhos por mulher. Em 2020, a taxa estava em 1,65 filho por mulher.

Pela lógica, portanto, deveria haver muitos profissionais maduros nas organizações, no mínimo em quantidade proporcional à porcentagem deles na população, certo? Errado. O ranking das “Tendências de gestão de pessoas”, publicado anualmente pelo Great Place To Work (GPTW), revela que apenas de 3% a 4% da força de trabalho tem 55 anos ou mais nas empresas. A principal explicação para isso é o etarismo, o preconceito relacionado à idade, que incide especialmente sobre os mais velhos.

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Lentidão, doenças e defasagem tecnológica são alguns dos rótulos associados aos idosos. É importante frisar a palavra rótulo, pois é disso que se trata. Nem todo idoso tem questões de saúde e nem todo jovem domina totalmente as ferramentas tecnológicas. Pontos fortes e pontos fracos de um profissional devem sempre ser avaliados individualmente, e não como uma condição ligada à idade, gênero, classe social ou etnia.

A verdade é que a mistura de várias gerações é uma vantagem competitiva para as companhias. Cada faixa etária possui uma bagagem teórica e prática específica, ligada à época em que nasceu e cresceu. As guerras mundiais, a ditadura militar, a Covid-19 e outros grandes acontecimentos moldam nosso jeito de ser, pensar e trabalhar.

Há também a bagagem ligada ao tempo de existência – alguém com 60 anos provavelmente já enfrentou mais desafios e acumulou mais aprendizado de vida do que um jovem de 30 anos. Por isso, somar diferentes pontos de vista e experiências só faz enriquecer o repertório de soluções da empresa, aumentando suas chances de ser criativa e inovadora.

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Outro ponto positivo é que uma organização com diversidade geracional reflete exatamente a realidade lá fora, melhorando a capacidade de compreensão das demandas de clientes, consumidores, parceiros, etc. Uma empresa predominantemente jovem (ou branca ou masculina) pode ter dificuldade para assimilar e responder à complexidade do mundo contemporâneo.

Qualificação ajuda a incluir mais velhos

Não bastassem as vantagens de hobbies e similares para incrementar o currículo e se sobressair em um processo de seleção, as atividades extra-profissionais também ajudam a melhorar a produtividade. Existem até pesquisas comprovando esse fato.

A seguir, cito os principais motivos para as atividades praticadas no tempo livre impactarem positivamente nossa performance no horário comercial:

- saúde mental – atividades prazerosas, se feitas regularmente e sem pressão, relaxam, distraem e reduzem o estresse, garantindo pensamentos e emoções mais positivas;

- criatividade – conviver com pessoas e situações fora do trabalho é uma ótima maneira de desenvolver ideias, soluções e perspectivas diversas daquelas que circulam dentro da empresa;

- autoconhecimento – os momentos reservados a um hobby são uma oportunidade para explorar e manejar nossos pontos fracos e pontos fortes, sem o temor do julgamento de um chefe ou de colegas;

- autocontrole – embora sejam uma válvula de escape dos problemas do dia a dia, os passatempos acabam exigindo paciência, persistência, foco, humildade, entre outras qualidades que melhoram a gestão das emoções;

- sociabilidade – é comum que hobbies e até esportes individuais acabem reunindo os praticantes em algum momento (cursos, eventos, competições etc), favorecendo as interações e o aprimoramento das habilidades sociais.

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Seja qual for o lado escolhido, o principal é lembrar que todo bom profissional precisa criar mecanismos para compensar o peso das demandas e das dificuldades enfrentadas no trabalho. A boa notícia é que esse autocuidado também conta e muito para tornar o currículo mais atraente e a performance, mais afiada.

*Fernando Mantovani é diretor-geral da Robert Half para a América do Sul

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