Saúde e inteligência emocional caminham juntas

  1. Os dados não mentem
  2. Como cultivar um ambiente mais saudável

Por Fernando Mantovani

É impressionante como o conceito de saúde deu uma guinada a partir da pandemia. Antes dela, a ideia de ser saudável girava principalmente em torno de sentir-se bem fisicamente e estar com os exames médicos em ordem. Hoje, ao pensar em saúde, imediatamente fazemos associação com o bem-estar mental, atribuindo um peso muito maior a nossas emoções e nossos pensamentos do que no passado.

Para o bem e para o mal, o período pandêmico acendeu um alerta máximo sobre problemas como depressão, ansiedade, burnout, entre outros transtornos, colocando-nos cara a cara com novos desafios e aprendizados sobre nós mesmos. Por isso, nesta véspera do Dia Mundial da Saúde, convido empresas e equipes a refletir sobre a conexão entre mente sã, inteligência emocional e liderança.

Os dados não mentem

Os números da 23ª edição do Índice de Confiança Robert Half (ICRH) não deixam dúvidas. Um funcionário que se sente bem psiquicamente, ou seja, que está feliz, não apenas é mais saudável, mas também produz melhor. A sondagem do 23° ICRH envolveu 1.161 profissionais, entre recrutadores, qualificados empregados e qualificados desempregados. Eles falaram sobre fatores que contribuem para a felicidade no ambiente corporativo e os impactos de um time insatisfeito.

De acordo com o estudo, 79% dos profissionais entrevistados se sentem, de modo geral, felizes com o trabalho. Segundo eles, os cinco principais motivos para terem essa sensação positiva são: gostar muito da profissão (69%), bom equilíbrio entre vida pessoal e profissional (62%), ser tratado com igualdade e respeito (58%), sentir orgulho da organização (53%) e sentir-se realizado com o trabalho (51%).

Entre aqueles que estão infelizes, é clara a percepção de que o sentimento de infelicidade gera consequências na rotina profissional. As maiores delas são: falta de motivação (100%), implicações psicológicas (87%), forte abertura a novas oportunidades de trabalho (81%), baixa proatividade (72%) e atitude pouco empática com colegas de equipe (58%).

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Os desempregados que participaram da pesquisa também passaram seu recado. Do total de profissionais em busca de recolocação, 31% indicaram que a saída da última organização em que trabalharam se deu de forma voluntária. Entre os fatores que levaram ao pedido de demissão, eles destacaram a ausência de felicidade (58%), a falta de perspectiva de crescimento (58%), a busca por novos desafios (55%) e a ausência de reconhecimento (44%).

Sentir-se bem e saudável é uma conquista individual, mas fortemente influenciada pela coletividade. Nesse sentido, o papel das lideranças para promover condições de trabalho favoráveis à saúde das equipes faz toda a diferença. Líderes com bom nível de inteligência emocional contribuem para que seus liderados se sintam mais confortáveis na empresa, o que se reflete positivamente no desempenho e nos resultados.

Como cultivar um ambiente mais saudável

Ter um clima organizacional mais leve, positivo e agradável envolve, acima de tudo, cultivar atitudes compatíveis com esse objetivo. Destaco, a seguir, recomendações práticas para aprimorar a inteligência emocional dos colaboradores:

1) Desenvolver o autoconhecimento – conhecer-se bem é o primeiro passo para poder agir com maturidade em situações difíceis. Quem se conhece, consegue manejar melhor as próprias qualidades e limitações;

2) Buscar ajuda especializada – para aprofundar o autoconhecimento ou atravessar momentos de crise, o apoio de um profissional especializado, como um psicólogo, pode ser de grande valia;

3) Apostar na empatia – a habilidade de compreender o ponto de vista dos outros contribui para reagirmos com mais calma e sensatez diante de adversidades e divergências.

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Cabe às lideranças darem o exemplo e o primeiro passo. Líderes que demonstram tranquilidade e sabedoria para lidar com as próprias emoções e a dos outros inspiram quem está ao seu redor. O contrário também acontece: chefias tóxicas tendem a estimular o comportamento inadequado dos demais. Por aí se vê como é fundamental preparar os gestores para as habilidades de comunicação e interação pessoal.

Na opinião de recrutadores ouvidos no estudo, colaboradores felizes são mais produtivos (89%), inovadores e criativos (74%), cooperativos com colegas de equipe (73%), leais à empresa (66%) e costumam superar as expectativas e metas estabelecidas (63%). Não faltam bons motivos, portanto, para todos investirem mais na dupla saúde mental e inteligência emocional.

*Fernando Mantovani é diretor-geral da Robert Half para a América do Sul