Coexistência saudável: integrando IA e trabalho humano para um futuro produtivo
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Por Fernando Mantovani
Poucos assuntos se destacaram tanto ao longo deste ano quanto os impactos da inteligência artificial (IA) sobre as nossas vidas. O tema vem sendo alvo de análises e polêmicas pelos mais diferentes ângulos, do ético passando pelo cognitivo ao educacional, mas nada se compara às preocupações dirigidas ao mercado de trabalho. Até mesmo especialistas envolvidos no desenvolvimento dessa tecnologia fizeram uma mea-culpa, temendo pelo futuro dos trabalhadores.
Desde a popularização de algumas ferramentas de IA, muitos profissionais sentiram uma virada de chave, com a readequação de funções e de cargos. No entanto, a transformação digital não para, e muito contrário, a tendência é que ela seja cada vez mais profunda e veloz.
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Avanços tecnológicos são parte da história
O que isso quer dizer exatamente? A essa altura, ninguém tem uma resposta clara e definitiva. Porém, é bom lembrar que os avanços tecnológicos fazem parte da história humana desde sempre, com maior proeminência a partir da Revolução Industrial, no século 18. Nesse processo, novas ocupações surgiram, outras sumiram e algumas se renovaram. É bem provável que o mesmo aconteça dessa vez.
Com a entrada progressiva da IA em tarefas mais operacionais, repetitivas e simples, surgirão oportunidades e carreiras em outras direções. Cito, aqui, algumas delas:
- Gerente de Transformação Digital (responsáveis por conduzir a transformação de organizações);
- Engenheiro(a) de Prompt (terá papel crucial na interação entre humanos e máquinas);
- Departamentos Jurídico/Governança (especialistas em leis, compliance e segurança nesse novo ambiente);
- Especialista em Cibersegurança de IA;
- Analista de dados avançados (irão trabalhar em conjunto com a IA);
- Engenheiro de Manufatura com automação inteligente (dedicados a sistemas automatizados e IA);
- Consultores (altamente técnicos e especializados em IA).
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Em meio a tantos desafios relativos à coexistência entre as inteligências humana e artificial, tenho duas convicções inabaláveis. Uma delas é a de que existem habilidades humanas insubstituíveis e elas serão cada vez mais valorizadas. Senso crítico, empatia e criatividade são algumas delas.
Essas qualidades podem ser adquiridas de inúmeras maneiras, por meio de cursos, viagens, leituras, hobbies, voluntariado, entre outros tipos de experiências individuais e coletivas. O fundamental é diversificar o repertório de conhecimentos e vivências, indo além da faculdade, por exemplo.
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Uma bagagem de vida diferente leva a ideias mais arrojadas e soluções inovadoras, o que é muito valorizado pelas organizações. Apostar na inteligência emocional é um ótimo caminho para obter esse resultado. O bom uso das qualidades comportamentais contribui para a construção de uma visão de mundo mais complexa e antenada.
Investir em qualificação é vital
A minha outra convicção é sobre a educação continuada. Ela representa o pulo do gato para lidar com os impactos e as oportunidades advindas da transformação digital no mercado de trabalho. Compartilho, a seguir, quatro pontos muito importantes sobre esse tema:
- empregabilidade – qualificar-se é essencial para ser um profissional com boas chances de ingressar e evoluir na carreira, seja ela qual for. O mercado de trabalho e o mundo, de modo geral, estão mudando constantemente, o que exige que atualizemos com frequência nossos recursos técnicos e comportamentais;
- domínio digital – manter-se atualizado sempre foi necessário para evitar o desemprego e obter novas conquistas. Atualmente, essa necessidade tornou-se um imperativo, até para assegurar o domínio de ferramentas tecnológicas básicas. Ficar defasado nunca foi tão fácil;
- cursos certeiros – a graduação não é mais suficiente para se diferenciar. Incrementar o currículo com cursos livres, de extensão e especialização é uma ótima pedida, desde que a opção escolhida realmente agregue valor aos objetivos profissionais;
- inglês sempre – a fluência em inglês ainda é incomum entre trabalhadores brasileiros, o que acaba criando nas empresas uma grande lacuna nesse quesito. Ou seja, profissionais fluentes no idioma estarão em vantagem.
Todo processo de mudança é assustador porque nos coloca frente a frente com o desconhecido e o temor de não darmos conta do recado. Em vez de nos paralisar, porém, o medo pode servir de alerta para uma boa revisão de nossos potenciais e limitações, inspirando mudanças em nós mesmos. Que tal começar agora?
*Fernando Mantovani é diretor-geral da Robert Half para a América do Sul